Projeto UNICOM: 30 anos
Há exatos trinta anos, por iniciativa de um grupo de alunos e professores da PUC-Rio (os amigos Luiz César Monnerat Tardin, Luiz Otávio Nunes Biazotto Mano, Ricardo Van Hombeeck, Maria de Fátima Oliveira e Sérgio Silva), norteados por uma visão cristã de mundo, que partia de uma Universidade Católica onde se sentiam compromissados a praticar a doutrina social da Igreja, a conciliar o conhecimento acadêmico com a experiência de vida comunitária, atuando de modo a contribuir para a melhoria da qualidade de vida em comunidades carentes, e imbuídos do pensamento de que a ação do cristão deve promover a prática da justiça (pois "o Criador destinou a todos a terra e seus bens"), nascia o projeto UNICOM (Universidade-Comunidade). Inicialmente batizado de Projeto Trabuco, com base de atuação em Senador Camará, naquela época extensa área rural que abrigava migrantes do Nordeste e de Minas Gerais (Trabuco = antiga máquina de guerra com que se atiravam pedras; balestra; espécie de bacamarte (arma de fogo de cano curto e largo, reforçada na coronha. Trabucar = atacar com o trabuco; agitar; revolver; trabalhar com grande afã; labutar; virar ou emborcar (uma embarcação); fazer estrondo; estrondar.), nasceu com o objetivo de integrar alunos universitários e moradores de comunidades carentes do Rio de Janeiro, promovendo vínculo e trocas entre esses dois grupos, tão diferentes, mas tão iguais nesta troca e nesta busca pela liberdade. Um caminho de duas vias, de mútua doação, sem paternalismo, guiado pela esperança.
O projeto é, pois, fruto da consciência, por um lado, da enorme desigualdade social existente na cidade do Rio de Janeiro e, por outro, da possibilidade real de atendimento às comunidades de baixa renda pela Universidade, que tem promovido, durante todos esses anos, serviços de assistência educacional, médica, jurídica e psicológica.
Assim, têm sido abertos espaços e oportunidades a quem precisa, sob viés multicultural, através do intercâmbio de alunos e ex-alunos de nível superior com as populações residentes nessas comunidades, sendo os voluntários incentivados a vivenciar maior responsabilidade social em sua prática profissional, pela troca de experiências e conhecimentos com a cultura popular local, a fim de contribuir para o desenvolvimento das comunidades onde atuam.
Atualmente, o UNICOM atende as comunidades de Senador Camará, Borel, Acari, Rocinha, Parque da Cidade e Pavão-Pavãozinho, nas quais atua de forma específica: Senador Camará conta com um ambulatório médico-odontológico, que disponibiliza atendimento profissional nas áreas de clínica geral, dermatologia, pediatria, ortopedia, ginecologia e odontologia, além de manter um curso de agentes de saúde e de prevenção de doenças; Borel dispõe de atividades de complementação escolar, corredor cultural e apoio jurídico; Acari se beneficia com atividades de psicologia e corredor cultural (em depoimento de Maria Inés Saadi de Tozzato, psicanalista, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e supervisora do Projeto UNICOM na área de psicologia, ".... realizando o ‘Corredor Cultural’, criamos a possibilidade para que os participantes do Projeto UNICOM visitem espaços culturais e/ou turísticos, nos quais vivam descobertas que propiciem transformações subjetivas e psicossociais. Oferecendo ‘Consultas Terapêuticas’, acolhemos e trabalhamos as angústias que transbordam ao contexto grupal e, sempre que necessário, fazemos o encaminhamento para atendimento psicoterápico, priorizando o SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) da PUC-Rio."); Rocinha possui oficinas de artes e ciências para crianças de sete a 13 anos e aulas de inglês para crianças a partir da quarta série, trabalho que, nas palavras da Professora Eloiza Dias Neves, mestra em educação ambiental, doutoranda em educação pela PUC-Rio e coordenadora pedagógica do Projeto UNICOM desde setembro de 2006, consiste "em promover ações pedagógicas realizadas por estudantes dos diversos departamentos da PUC-Rio e demais universidades. O objetivo geral é propiciar um espaço alternativo de aprendizagem. Aos moradores da comunidade, aprendizagem de conteúdos acadêmicos diversos, juntamente com a promoção do crescimento da auto-estima. Aos estudantes e profissionais, voluntários do projeto, aprendizagem de outra realidade social e/ou a experiência de serem professores de crianças e adultos com capital cultural bastante diverso de suas bagagens pessoais. Um desafio e tanto.", além de acompanhamento psicológico para as crianças e seus familiares; Parque da Cidade possui aulas de ensino de inglês para crianças, alfabetização de adultos, apoio ao preparatório para o ingresso de alunos de quarta série em colégios de excelência, além do "Grupo de Transformação e Reflexão", com senhoras da comunidade, na visão da mesma Maria Inés Saadi de Tozzato, "um espaço clínico de reflexão" voltado para "a construção e a transformação subjetiva de famílias, adolescentes, crianças e mulheres, que compartilham desejos, sonhos e experiências, e estabelecem redes vinculares de pertença"; Pavão-Pavãozinho conta com atividades de complementação escolar e corredor cultural.
Mais recentemente, em parceria com a Arquidiocese de Manaus e comunidades locais, o projeto estendeu-se à região amazônica e passou a proporcionar a imersão de universitários voluntários em múltiplas realidades daquela região, com os mesmos objetivos acima expostos. É o UNICOM-Amazônia (curta duração: desde 2001; longa duração: desde 2004).
O UNICOM-Amazônia – curta duração consiste em uma breve incursão anual pela Amazônia, com o principal objetivo de fazer com que os estudantes estabeleçam um primeiro contato com a região e conheçam ali a atuação do Exército. A programação dura em média dez dias e prevê viagens às comunidades silvícola e ribeirinha da bacia amazônica, às cidades do interior e às áreas de fronteira, além de incluir, também, com especial destaque, cursos, palestras, seminários e debates sobre a conjuntura pan-amazônica. Graças à parceria com a FAB, o projeto é favorecido com o transporte entre as regiões.
O UNICOM-Amazônia – longa duração é aberto semestralmente aos alunos de todos os cursos que tenham concluído, pelo menos, metade dos créditos curriculares. Contando, igualmente, com a parceria da FAB, proporciona a imersão de estagiários, durante três meses, em múltiplas realidades da região amazônica. A iniciativa busca fomentar a troca de experiências e conhecimentos entre a cultura popular local e o saber técnico-científico do meio acadêmico, a fim de contribuir para o desenvolvimento daquela região. É, portanto, uma oportunidade de estágio social fundamental para que os estudantes tenham uma visão mais abrangente da realidade do país, permitindo que coloquem em prática seus conhecimentos teóricos, numa ação de solidariedade cristã.
A cada uma de suas edições, o UNICOM-Amazônia vem se auto-construindo e tomando forma. Até hoje, inúmeros grupos de alunos dos diversos cursos da PUC-Rio já estiveram em Manaus, experimentando o estilo de vida local, participando ativamente do Projeto, através de trabalhos sociais ligados à arquidiocese da cidade, e, assim, conseqüentemente, ajudando a moldá-lo.
Atualmente, está sendo feito um trabalho de resgate e sistematização da história e memória dos atores que vivenciaram e têm vivenciado esta extensão do projeto.
E o futuro, o que nos reserva? Quais serão nossos próximos passos?
Muito se pretende e espera de um projeto vivo, em movimento, sempre jovem, não-paternalista, como é o UNICOM. E muito se tem conseguido, ainda que os efeitos nem sempre sejam imediatos. O mais importante é que o aprendizado obtido ao longo do projeto por todas essas gerações de futuros profissionais que têm passado pelo UNICOM certamente tem efeito multiplicador e de longo prazo. Nada da experiência neste projeto ficará perdido. Tanto os voluntários quanto os moradores das comunidades assistidas terão sempre arraigado em seu ser todo um conhecimento de uma verdade especial, a verdade de que podemos transformar o mundo a nossa volta pelo exemplo e trabalho, de que somos capazes de nos fortalecer e fortalecer aos que nos cercam. Depois de uma experiência no UNICOM, ninguém é mais o mesmo. Um projeto de troca e transformação, que penetra fundo os corações e mentes, neles imprimindo um modo de vida que se eterniza e acompanha para sempre a jornada dos que nele atuam.
É esta a esperança que nos move e acalenta: de que, cada vez mais, um maior contingente de jovens atue, através desses trabalhos, e descubra a realidade do nosso país, sentindo a responsabilidade pessoal em promover mudanças que tornem conscientes e auto-suficientes as comunidades necessitadas e lhes despertem, também, este compromisso social de uns com os outros – o único caminho possível para uma libertação. Nas palavras do Professor Luiz César Monnerat Tardin, professor da PUC-Rio, um dos fundadores do UNICOM e seu atual coordenador, "...... sendo o ser humano co-responsável pela criação e também seu dinamizador, todos devem se sentir chamados a promover uma educação para a justiça. A juventude, portanto, deve ser motivada a participar ativamente da vida. A participação na sociedade civil é um constante aprendizado para a superação da violência, estimulando a prática da justiça, verdadeira promotora da liberdade e do desenvolvimento das pessoas e dos povos. Só através desta mediação renascerá a esperança entre os jovens. A educação que realiza a pessoa num caminho ético fará prevalecer nela o gosto pela vida societária fraterna".
Responda às perguntas abaixo e ganhe uma camiseta UNICOM e brindes PUC-Rio:
- Como você vê o trabalho voluntário?
- Você acredita no trabalho voluntário?
- Já vivenciou alguma experiência nesse sentido? Narre-a resumidamente.
- Você se proporia a um trabalho voluntário? Qual, especificamente?
- O trabalho voluntário é uma das soluções para as mudanças sociais de que tanto necessitamos? Para o combate à violência? Para a conscientização das comunidades a respeito de suas próprias realidades e do quanto podem contribuir para as necessárias mudanças? Para sua transformação?
